Gabriel Nogueira ingressou no curso na Universidade Federal de Pelotas.
Exemplo de superação, estudante faz planos para o futuro com namorada.

Gabriel se formou no Ensino Médio e entrou na faculdade de teatro em 2012 (Foto: Arquivo Pessoal)
Desde o dia 5 de março, os almoços da família Nogueira ganharam uma alegria diferente em Pelotas, no sul do Rio Grande do Sul.
É na mesa, ao lado dos pais, que o estudante Gabriel conta com
empolgação cada detalhe de sua nova façanha: a aprovação para o curso de
Teatro na Universidade Federal de Pelotas (Ufpel). O jovem de 24 anos
tem Síndrome de Down e foi um dos selecionados pelo Programa de
Avaliação da Vida Escolar (Pave), que analisa o currículo escolar dos
alunos.
"Está sendo uma emoção permanente", conta a mãe de Gabriel, Joseane de
Almeida, que vibra com cada uma das histórias que o garoto traz das
aulas. Em vez de isolar o menino, os pais optaram por outro caminho.
Desde a infância, o jovem participou de atividades que despertassem sua
criatividade e aptidões. Integrante de um projeto da Ufpel, o Carinho,
Gabriel fez aulas de natação e também de dança. “Sou faixa preta em
Taekwondo”, conta o estudante que pratica a atividade há alguns anos.
O primeiro filho de um casal pelotense sempre estudou em escolas
normais. “Ele nunca repetiu o ano, sempre foi muito esforçado”, diz
Joseane. Quando sua irmã mais nova decidiu cursar jornalismo, Gabriel
entusiasmou-se com a idéia e também quis virar calouro. “A ideia foi
dele. Nos questionávamos se ele iria conseguir, mas ele não se deixa
intimidar, é de bem com a vida e conseguiu uma nota suficiente para
entrar”.
O Pave é um programa da Ufpel paralelo ao Enem, que avalia o desempenho
escolar durante todo o Ensino Médio, possibilitando o ingresso de
diferentes pessoas na universidade. A coordenadora do curso de Teatro da
faculdade explica que diversas provas são desenvolvidas ao longo da
vida letiva do concorrente. “O edital tem uma série de peculiaridades.
Mas o positivo disso tudo é que mais pessoas estão tendo acesso às
universidades”, fala Marina deOliveira. Os professores e os colegas de Gabriel também estão entusiasmados com a convivência. “Ele é muito carismático e espontâneo. O maior desafio é dos próprios professores, já que é uma novidade para todos. Estamos construindo novas formas de relacionamento, de construir o conhecimento”, retrata a coordenadora.
Em um curso dividido em três eixos, pedagógico, prático e teórico, a
maior dificuldade de Gabriel, segundo sua mãe, será as matérias com
caráter mais subjetivo. “Apesar de adorar filosofia, o desafio dele será
na compreensão. Ele demora um pouco mais para acompanhar as coisas”,
explica. Já no olhar do próprio aluno, estar na universidade tem sido um
grande presente. “Eu acho interessante teatro. A matéria que mais
gostei até agora é a de improvisação”, conta. Na infância, Gabriel
participou de algumas peças na escola. Amante de violão, lançou-se em
2011 na sua primeira interpretação no filme “Down City”, que conta a
história de uma pessoa que nasce normal em uma cidade de portadores da
Síndrome de Down. Com a vaga garantida na faculdade, o garoto agora faz
planos com a namorada. “Comemoramos dois anos em abril. Quero casar e
constituir família”, completa, feliz, Gabriel.

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